Antropofagia de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade
Tarsila do Amaral foi uma artista que lutou pela renovação e inovação da arte, junto com Oswald de Andrade eles propõem que o Brasil crie uma postura crítica com o recebimento das influências estrangeiras.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Entrevista com o Professor de Artes do Colégio Master Aracaju Milton Gomes Coêlho
BLOG - Qual a importância de Tarsila do Amaral para a arte brasileira?
MGC - Ao criar a imagem Abaporu e com a ajuda de Oswald de Andrade eles criaram uma metodologia para que a cultura brasileira se relacionasse com a produzida no mundo.
BLOG - Qual foi a repercussão do quadro Abaporu de Tarsila do Amaral?
MGC-Ele iniciou um dos principais movimentos artístico/cultural do país.
BLOG - O que foi o Manifesto Antropofágico?
MGC - É uma metáfora com os intelectuais brasileiros que deveriam interagir com a produção estrangeira, incorporando o estrangeiro de forma crítica e aproveitando o que ele tem de melhor.
BLOG - Qual a importância de Oswald de Andrade para a valorização da arte brasileira?
MGC - Junto com Tarsila, ele foi um dos criadores do movimento antropofágico, além de ser um intelectual e escritor brasileiro.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
O Sarampo Antropofágico
A respeito do movimento modernista, os críticos e os estudiosos entram
em sintonia num ponto: a Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, em São
Paulo, representou um marco, verdadeiro ponto de inflexão no modo de ver o
Brasil.
Não só de ver como de escrever sobre o Brasil. Em geral, os artistas e
intelectuais de 1922 queriam arejar o quadro mental da nossa
"intelligentsia", queriam pôr fim ao ranço beletrista, à postura verborrágica e à mania de
falar difícil e não dizer nada. Enfim, queriam eliminar o mofo passadista da
vida intelectual brasileira.
Do ponto de vista artístico, o objetivo fundamental da Semana foi
acertar os ponteiros da nossa literatura com a modernidade contemporânea.
Para isso, era necessário entrar em contacto com as técnicas literárias
e visões de mundo do futurismo, do dadaísmo, do expressionismo e do
surrealismo, que formavam, na mesma época, a vanguarda européia. Desse ângulo,
o modernismo é expressão da modernização operada no Brasil a partir da década
de 20, que começava a dar sinais de mudança (vide, no plano político, o
movimento rebelde dos tenentes) de uma economia agroexportadora para uma
economia industrial.
Esse juízo é, do ponto de vista mais geral, certeiro; no entanto, ele
não deve esconder as diferenças no seio do movimento de 22. Diferenças de ordem
política, ideológica e estética. Na verdade, houve duas correntes modernistas:
uma de inspiração conservadora e totalitária, que iria, em 1932, engrossar as
fileiras do integralismo, e outra, mais crítica e dissonante, interessada em
demolir os mitos ufanistas e contribuir para o conhecimento de um Brasil real
que não aparecia nas manifestações oficiais e oficiais da nossa cultura. O pressuposto
essencial de 22, o autoconhecimento do País, tinha a um só tempo de acabar com
o mimetismo mental e denunciar o atraso, a miséria e o subdesenvolvimento. Mas
denunciar com uma linguagem do nosso tempo, moderna, coloquial, aproveitando o
arsenal estilístico e estético das inovações vanguardas européias.
Essas duas correntes se delineiam em 1924, com a publicação do primeiro
manifesto de Oswald de Andrade, Pau Brasil, no "Correio da Manhã".
Nele já estava inscrito o lema que guiaria toda a atividade artística e
intelectual da ala crítica modernista: "A língua sem arcaísmos, sem
erudição. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como
somos". A outra corrente, conservadora, que iria opor-se a Oswald de
Andrade, seria conhecida por verde amarelismo, cujo batismo mostra bem a
filiação nacionalista e xenófoba: um canto de amor, cego e irrestrito, às
"glórias pátrias". Em 1928, essa oposição recrudesce. E, com ela, a
politização do modernismo. Verde-amarelismo transmuta-se em Anta; Paulo-Brasil
deságua no movimento antropofágico.
Neste mês de maio faz 50 anos que o inquieto, o irreverente e zombeteiro
Oswald de Andrade escreveu o manifesto literário antropofágico. De lá para cá
muita coisa mudou no Brasil. Tanto política como culturalmente. Apesar de
marcado ainda por traços de dependência, o País se industrializou nas últimas
décadas; houve mudanças sociais e econômicas significativas. Se não quisermos
apenas celebrar ingenuamente a data, temos de nos perguntar: teria ainda alguma
coisa a dizer e a ensinar o manifesto literário escrito em 1928?
Para isso, seria preciso situar o núcleo da antropofagia, que Oswald de
Andrade, aliás, nunca formulou clara e explicitamente; seu manifesto foi
escrito numa linguagem elíptica, repleta de ambiguidades e sem ligação
explícita entre as frases. Mas, mesmo assim, dele é possível extrair algumas
formulações. O que o caracteriza é a retratação do caráter assimétrico da nossa
cultura, onde coexistiam o bacharelismo de Rui Barbosa, ou as piruetas verborrágicas
de Coelho Neto, junto com as experiências vanguardistas do pintor Portinari. E
hoje, de um lado, a moda de viola e a música sertaneja; doutro lado, a bossa
nova e o cinema novo. Essa mistura, por assim dizer, era vista como resultado
do desenvolvimento histórico no Brasil que, apesar de unitário, apresenta um
abismo entre os aspectos arcaicos e modernos, entre as favelas e os
arranha-céus, entre os guardadores de carro e os "shopping-centers",
entre Embratel e Piauí.
*
O manifesto antropofágico tocou no cerne do capitalismo no terceiro
mundo: a dependência. Ou pelo menos captou seus reflexos no plano da cultura.
Denunciou o bacharelismo das camadas cultas, que permanecem alheadas da
realidade do País, reproduzindo os simulacros dos países capitalistas
hegemônicos. Ironizou a consciência enlatada de largos setores do pensamento
brasileiro, que se comprazem, quando muito, em assimilar idéias, jamais
criá-las. Se Oswald de Andrade teve a lucidez de ridicularizar com o mimetismo
que tanto seduz o intelectual solene e bacharel, ele não caiu no equívoco de
fechar as portas do País do ponto de vista cultural. Ao contrário, sua
formulação em torno da "deglutição antropofágica" exige o
remanejamento das idéias mais avançadas do Ocidente em conformidade com a especificidade
de nosso contorno social e político.
Nesse ponto é difícil negar sua atualidade. Ademais, a estrutura social
que a antropofagia reflete e denuncia ainda não mudou em seus aspectos
fundamentais. A industrialização das últimas décadas, realizada sob a égide do
capitalismo concentracionista, aguçou ainda mais o desenvolvimento desigual em
nosso País, trazendo, de um lado, sofisticação e modernização tecnológicas e,
doutro lado, engendrando bóias-frias e marginalidade urbana. O Brasil em que Oswald
escreveu o manifesto antropofágico e o Brasil de hoje é ainda o mesmo,
ostentando, entre outras coisas, "berne nas costas e calosidades
portinarescas nos pés descalços".
*
A retomada oswaldina na década de 60 sobretudo pela música popular
(através do movimento tropicalista), tem a sua razão de ser em parte na
persistência dessa estrutura social. Ao contrário da década de 40 - época em
que foi injustamente criticado de escritor desleixado e superficial - Oswald de
Andrade goza, nos dias de hoje, de enorme receptividade, principalmente junto
ao público universitário. Ao lado de Mário de Andrade, que forma o outro pólo
da moderna literatura brasileira, é impossível compreender o sentido e a
dinâmica do movimento de 22 sem levá-lo em conta.
Nesse sentido, o manifesto antropofágico é um sarampo que pegou fundo e
de maneira duradoura a cultura no Brasil.
O texto
acima é um editorial. Foi publicado na Folha de S.Paulo no dia 15 de maio de
1978.
A ideia do grupo.
Tarsila
do Amaral juntamente com seu marido Oswald de Andrade fundaram o movimento
antropofágico ou manifesto antropofágico que queria ‘’devorar’’ a influencia da cultura européia, vigente na
época, transformando-a em algo bem brasileiro. Esse movimento defendia que todas as influências
culturais vindas de outros países deveriam ser “mastigadas” pela cultura
brasileira e não somente aceitas. A cultura brasileira não precisaria imitar a
arte europeia. Era preciso então redescobrir o Brasil que já existia antes do
século XVI. O Manifesto
antropófago amplia as ideias do Movimento Pau-Brasil. Passou, inclusive,
a defender radicalmente a valorização da língua Tupi, pertencente a vários
grupos indígenas brasileiros desde a época do descobrimento.
A importância desse movimento foi a valorização da cultura local,
a exemplo da indígena, não dependendo somente das idéias culturais vindas da
Europa. O Manifesto antropófago amplia as idéias
do Pau-Brasil, através dos seguintes elementos: A insistência radical no caráter indígena de nossas raízes: "Tupy
or not tupy that is the question". O
humor como forma crítica e traço distintivo do caráter brasileiro: "A
alegria é a prova dos nove". A
criação de uma utopia brasileira, centrada numa sociedade matriarcal, anárquica
e sem repressões.
O Movimento Antropofágico
O Movimento Antropófago (ou Manifesto Antropofágico) foi um
Manifesto Literário escrito por Oswald de
Andrade, principal agitador cultural do início do Modernismo brasileiro, o qual fundamentou
a Antropofagia. Lido em 1928 para seus amigos na casa de Mário de Andrade, foi publicado na Revista de Antropofagia, a qual Oswald
ajudou a fundar com Raul Bopp e Antônio de Alcântara Machado.
Redigido em prosa poética à moda de Uma Estação no Inferno de Rimbaud,
o Manifesto Antropófago possui um teor mais político que o anterior manifesto
de Oswald, o da Poesia Pau-Brasil, que
pregava a criação de uma poesia brasileira de exportação. Esteticamente, o segundo
manifesto de Oswald, basicamente, reafirma os valores daquele, apregoando o uso
de uma "língua literária" "não catequizada".
Ideologicamente, se
alinha ainda com aquele, porém busca uma maior explicitação da aproximação de
suas idéias com as de Breton (e, portanto, Marx, Freud e Rosseau).
Apregoando ainda o primitivismo da geração do Modernismo Brasileiro de
1922, aprofundando a consciência daquele primeiro modernismo, Oswald afirma no
seu manifesto que "só a antropofagia nos une", propondo
"deglutir" o legado cultural europeu e "digeri-lo" sob a
forma de uma arte tipicamente brasileira.
Na idade madura,
Oswald buscou fundamentação filosófica para as teorias expostas no manifesto da
Antropofagia, ligando-a a Nietzsche, Engels,
Bachofen, Briffault e a outros autores, tendo escrito mesmo teses a respeito do
assunto, como em Decadência da
Filosofia Messiânica, incluído em A
Utopia Antropofágica e outras
utopias, lançado, como toda sua obra, pela editora Globo a partir dos anos de
1980.
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